28 de agosto de 2009

Parto Ecológico, uma realidade possível

Parto Ecológico, uma realidade possível
Jorge Mello (*)

O parto é seguramente a maior experiência na vida de uma mulher. E é um fato normal, fisiológico. Abordar ecologicamente o parto é restituir o seu caráter de normalidade. Tecnicamente, “parto normal é aquele que tem início espontâneo, baixo risco no início do trabalho de parto, permanecendo assim durante todo o processo, até o nascimento. O bebê nasce espontaneamente, em posição cefálica de vértice (com a cabeça para baixo), entre 37 e 42 semanas completas de gestação. Após o nascimento, mãe e filho em boas condições.” (1) Em termos estatísticos, entre 70 e 80 por cento de todas as gestantes podem ser consideradas de baixo risco no início do trabalho de parto. É importante ressaltar que a determinação do risco é realizada em um acompanhamento pré-natal adequado. Com isso, constatamos que a humanização do parto não trata-se de uma abordagem “alternativa”, no sentido excludente desse termo. Antes disso, a opção pelo parto ecológico implica em re-aproximar ciência e tradição, habilidade e instinto; trata-se de reunir o trio mãe-flho-pai, friamente afastados por imposições culturais de uma sociedade tecnocêntrica. Assim, “no parto normal, deve existir uma razão válida para interferir no processo natural.”(1)

Essa não-intervenção demanda uma postura de humildade dos profissionais que assistem ao parto, cientes que são de que ali existe uma ordem natural em expressão. Por outro lado, requer desses mesmos profissionais a necessária preparação e qualificação técnicas, para avaliar com precisão o momento em que se deve intervir, na medida necessária e suficiente, e com os meios adequados.

Parturiente
Na definição de nossos termos, criamos e expressamos uma visão de realidade. É interessante, assim, lembrar que grávida não é paciente, pois não está doente, apenas vai ter um bebê. É portanto uma parturiente. E também não é paciente porque a ela cabe o papel de agente nesse fantástico processo de proporcionar a manifestação de mais uma vida humana.

Preparação
O parto e o nascimento configuram uma crise vital. Por isso, é muito importante que os participantes do processo estejam devidamente preparados. Primeiro, a preparação física da gestante. Respiração adequada a cada fase do trabalho de parto, atenção à alimentação, práticas físicas regulares e específicas para o período gestacional, são alguns dos fatores a considerar. No aspecto emocional/psíquico, é natural que mudanças gerem dúvidas e até medo. Pode-se dizer que é difícil ter um parto sem desconforto, mas é viável ter um parto sem medo. Para isso, é muito bom contar com informações claras sobre o que está acontecendo e apoio de pessoas experientes. Também é de valor inestimável a possibilidade de compartilhar suas vivências com outras famílias gestantes. E adotar práticas de relaxamento pode ser decisivo na capacidade de lidar bem com as fases de maior exigência, tanto na gestação quanto no parto.

Em uma abordagem inclusiva, ainda considera-se a dimensão transpessoal do processo. Aqui, temos as práticas de visualizações, meditação, e de conexão com o Ser que está por nascer. Ainda no útero, o bebê começa a ser estimulado positivamente pela sua família, sentindo-se aceito e amado. Todas essas medidas geram um continente amoroso para o bebê, ao par de uma atmosfera segura e saudável para a mãe . E aumentam em muito a possibilidade de uma gestação tranquila e de um parto normal. Os benefícios são facilmente verificáveis.

O Local do Parto
“ Em que lugar uma mulher deve dar à luz? Pode-se afirmar com segurança que uma mulher deve dar à luz num local onde se sinta segura, e no nível mais periférico onde a assistência adequada for viável e segura (F.I.G.O.-1992)”.(1)

Um parto fora do hospital, apesar de ser um acontecimento não muito comum, não é algo assim tão extraordinário. Em um passado não distante, este era o meio mais comum de se vir ao mundo. Por exemplo: na cidade de São Paulo, em 1958 cerca de 55% dos partos foram domiciliares. Em muitos lugares do Brasil ainda se nasce assim, onde existem poucos hospitais, ou é muito difícil o acesso a centros terciários de atenção à saúde. Nesses casos, o parto geralmente é realizado por parteiras tradicionais.

Na década de 60, veio a modernização!! A tecnologia! A produção em série, que infelizmente também acabou contaminando a saúde. Não que isto em si seja ruim, mas acaba relegando ao descrédito muitos elementos que são benéficos a humanidade. Aliás, o homem moderno sofre dos efeitos deste processo, onde temos um desenvolvimento tecnológico cada vez maior em detrimento da perda da qualidade humana; um homem violento. Mais tecnologia e menos segurança social, menos felicidade. Junto com a moda do modernismo, onde o melhor é o que é mais novo, passou-se a nascer nos hospitais. Lá é que é seguro! MODERNISMO. A televisão é o veículo homogeneizador. Um liqüidificador do pensamento da sociedade. Mas será que tudo o que é mostrado às pessoas é verdade? Será que todos estão contentes com estas mudanças? Parece que não! Em todo o mundo, assiste-se a um certo retorno ao verde, ao original, ao natural. Em todos os lugares temos lojas de produtos naturais. A homeopatia se expande em progressão geométrica, pelos seus resultados e não pela propaganda. A acupuntura e outras terapias tradicionais também adquirem cada vez com mais adeptos. Em vários países são proibidos aditivos alimentares artificiais.

O "movimento Leboyer", na década de 70, desencadeou a luta por um parto mais natural no mundo inteiro. Porque um poeta que lançou ao mundo imagens e conceitos em forma de poesia (não de experimentos "científicos") provocou uma revolução tão grande? Em muitos países considerados desenvolvidos aumenta o interesse em se dar à luz no próprio domicílio, principalmente nos EEUU, Inglaterra, Austrália e França. Na Holanda, hoje cerca de 35% de todos os nascimentos são domicilias, com uma das menores taxas de mortalidade infantil da Europa. Sem contar o melhor rendimento entre o capital investido na saúde e a melhoria dos resultados perinatais. (2)

Mas por que um parto em casa?

A resposta é complexa e os motivos são variados e pessoais. Mas temos visto, entre muitos, que alguns querem desfrutar da atmosfera tranqüila e já bem conhecida do próprio lar, sem luzes ofuscantes, sem cheiros estranhos, tendo ao seu lado somente pessoas que já conheçam e com as quais possuem um laço afetivo. Outros querem a possibilidade de ficar com o bebê após o nascimento o tempo que for possível, podendo tocá-lo, vê-lo, senti-lo, e depois poder dar um banho morno, prazeroso e demorado. Curtir o nenê que acabou de nascer!. Outros não querem o atendimento massificado dos hospitais, onde serão um número a mais: a paciente do 314, ou o bebê 597.

Outras mulheres têm medo de hospital, ou entrar nele implica na lembrança de ocorrências passadas desagradáveis suas ou de familiares (abortamentos, cirurgias, acidentes, contaminações hospitalares) ou a perda de pessoas próximas queridas. Alguns casais podem querer ter um parto dentro d'água, modalidade ainda não possível em hospital no Brasil (ou muito raramente) e preferem ter seu bebê no domicílio. Algumas temem por infeção hospitalar. Outras fazem questão da presença constante do marido, (e por que não participação?) raramente permitido em muitos hospitais.

O pressuposto comum destas motivações é que o parto não é uma doença, salvo em gestações de risco. É um fenômeno fisiológico. De qualquer maneira a decisão final vai ser tomada SOMENTE QUANDO SE ENTRA EM TRABALHO DE PARTO, mesmo com condições propícias de um pré-natal normal. Neste momento se examina a parturiente, se escuta o batimento do coração do nenê durante várias contrações, se avalia as condições da mãe, sua pressão arterial, a dilatação do colo uterino.

É seguro este parto?

Na verdade há um protocolo técnico para ser aplicado no pré-natal no sentido de reconhecer gestação de risco, que possa necessitar de intervenção ou assistência especializada. Ao par disto, a anuência total do marido é condição fundamental. Portanto é necessária a discussão prévia entre o casal e depois complementar com informações médicas, se necessário. É claro que existe um risco. Como também existe em um parto no hospital. Todo parto é potencialmente um momento de risco. É importante que este seja assumido por TODOS. Ainda não sabemos qual dos dois é o de maior risco, se o hospitalar ou domiciliar, para casos específicos.

Acreditamos que ambos tem suas indicações, portanto o parto em casa não é o melhor, mas é bom para aqueles que o julgam bom. Outros casos vão ter contra-indicação médica para ocorrer em casa, e para esses o parto hospitalar é o melhor. O parto é um fenômeno da esfera sexual, onde afloram elementos do mais profundo inconsciente. Instinto puro. Portanto é preciso não coibi-lo para que este elemento instintivo se manifeste. A palavra chave é LIBERDADE.
Liberdade de expressão, de movimento, de poder deixar-se acontecer. Poder assumir a posição que for mais confortável para ela nos diferentes momentos do parto.

Os primeiros instantes após o nascimento são fundamentais para a criação de uma ligação. Chamada em inglês de "bonding". Um elo. Laços profundos se estabelecem. Portanto acreditamos que o melhor lugar para um recém-nascido ficar é o colo da sua própria mãe. Outra coisa que deve-se ter em mente é que a decisão REAL do local do parto é quando entrar em trabalho de parto, e, mesmo assim, se houver fatores que determinem um transporte para o hospital, ele será feito a tempo, isto é antes que ocorram complicações. Por isso deve-se ter a mente aberta para o desenrolar não ser como o ideal previsto, pois o determinante das
decisões é a segurança do binômio mãe-bebê. Aceitamos a frustração mas não
a decepção.

A Equipe deve ser escolhida com carinho. Deve-se conhecer outras pessoas que já tiveram partos com esta equipe, procurar informar-se sobre a prática cotidiana dos profissionais que vão acompanhar a gestação, o trabalho de parto, pós-parto e puerpério. No caso de optarem pela experiência do parto não-hospitalar, primeiramente deve-se imaginar como tudo vai acontecer, onde gostaria de ter seu bebê, e fazer todos os preparativos necessários. Com o apoio da Equipe,
definir o seu protocolo de parto, e receber todas as informações que necessitar para sua tranquilidade.

Mas...e a cesariana?

A cesariana é uma ótima cirurgia, que salva muitas mulheres e muitos bebês. Mas é um procedimento cirúrgico, com 4 vezes mais risco para a o bebe e 10 vezes mais risco para a mãe. Portanto não deve ser o parto de escolha, sem antes tentar-se um procedimento que é fisiológico na maioria dos casos. Uma taxa de cesariana idealmente aceitável para a Organização Mundial da Saúde está na faixa de 10-15%. Atualmente os Estados Unidos estão com 24%. O Brasil, em média, passa dos 50%.

Jorge Mello – Terapeuta (Shiatsu, Reflexologia e Reiki). Praticante graduado (2o. Dan) e instrutor de Aikido. Cursos e experiências de vida comunitária na Findhorn Foundation (Escócia) e Schumacher College (Inglaterra). Facilitador do módulo de Saúde do “Treinamento em Ecovilas – Brasil”. (jorgemel@simplicidade.net)

(1) – “Assistência ao Parto Normal – um guia prático” – Unidade de Maternidade Segura – Saúde Reprodutiva e da família – Organização Mundial da Saúde – Genebra, 1996
(2) Trabalhos publicados pelo Dr. Adailton Salvatore Meira – Campinas(SP), 2000

Fonte:
http://br.geocities.com/ecovila/partoecologico.pdf

- Veja também:
Polaridade - A Cura Através das Mãos
Produtos de limpeza ecológicos

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