22 de abril de 2013

Urtigão



Por Adrian Rupp

Nomes populares:[1]
urtigão; urtigão-bravo; urtiga-roxa; ortiga-brava; cansanção-roxa (BA); cansanção; urtiga-brava; urtiga-fogo; urtiga-grande; urtiga-vermelha; cow itch (Inglês); pinhouasú, pyñoasú (Paraguai); pyrfé (Kaingang); ortigón, ortiga brava (Castelhano); nigua (El Salvador); chichicaste, chichicaste blanco, ortiga, nigüilla (Castelhano - América  Central); chichicata (Cuba; México); yoreda (Colômbia - Murui); ortiga morada, pringamosa dientona, pringamoza (Colômbia); tártago, cadillo (Venezuela); ortiga grande (Argentina)

Nomes científicos: Urera baccifera (L.) Gaudich. ex Wedd., Urera baccifera var. horrida (Kunth) Wedd., Urtica baccifera L.[3]

Família: Urticaceae
Tipo de folha: Inteira[2]
Margem do limbo: Dentada[2]
Filotaxia: Alterna[2]
Forma de vida: Arbusto fanerofítico[2]

Cultivo:
É considerada planta daninha, pois a presença de pêlos urticantes na planta torna-a muito trabalhosa para ser erradicada.[4]
A presença e quantidade de acúleos variam em função de pressões ambientais, e.g., quando expostas ao sol direto as plantas desenvolvem  mais acúleos. Logo, esta espécie é indicada para plantios em locais
parcialmente sombreados, e.g., sistemas agroflorestais.[1]

Floração/frutificação: Verão e outono.[4]
Dispersão: Zoocórica[4]

Hábitat
É encontrada na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, em florestas úmidas, em áreas bem drenadas, matas ciliares e florestas semidecidual, associadas a solos residuais a partir de rochas ácidas e calcárias; sempre em capões  de mata, na orla ou também no interior de matas. É heliófita.[4]

Distribuição geográfica
Apresenta ampla distribuição desde o México, passando pela América Central e Antilhas, até a Argentina, Bolívia, Peru e Brasil.
Ocorre no Norte (Acre), Nordeste (Paraíba, Pernambuco, Sergipe), Centro-Oeste (Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal), Sudeste (Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro), Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) (ROMANIUC NETO, 2010).[4]

Constituintes químicos: nitrato de potássio, acetilcolina, histamina,  ácidos fórmico, ácidos gálico, cálcio, caroteno, enxofre, magnésio,  potássio, silício, tanino, vitamina C.[3]

Descrição [4]
Arbustos, subarbustos ou arvoretas, 1,5 m a 5,5 m alt., ramos tortuosos,  escandentes, fistulosos, sulcados a levemente canaliculados, acinzentados a verde-amarelados, glabros a raramente hispidulosos; acúleos presentes na base e inermes no ápice, reduzidos, raramente ausentes; tricomas urticantes geralmente presentes, decíduos; látex escasso, tornando-se enegrecido quando exposto ao ar. Lâmina foliar (3,8-)8,5-16,7(-25,8) cm. compr., (3,8-)5,5-13,3(-18,7)cm larg., amplamente ovada, às vezes ovada a levemente elíptica, membranácea a subcoriácea ou cartácea; ápice acuminado a agudo, base frequentemente cordada a subcordada, às vezes arredondada a levemente truncada, margem sinuada a serreada ou denteada; face adaxial esparsamente híspida a hispidulosa, áspera ao toque, concreções de carbonato de cálcio geralmente presente, puntiforme, esbranquiçado; face abaxial esparsa a densamente híspida; acúleos 1,7-2,5 mm compr. ao longo das nervuras na face adaxial e na principal da face abaxial; venação actinódroma, ás vezes crespedódroma; cistólitos arredondados ou lineares sobre ou próximas ás nervuras; pecíolos (2,3-)5,7-12,3(-18,4) cm compr., sulcados, fistulosos, rugosos, pubescentes, com acúleos pequenos; estípulas (1,8-)2,4-3,0(-3,5) cm compr., triangulares, decíduas, pubescentes. Inflorescências axilares, cimosas ou paniculadas, dicotômicas ou escorpióides, ramificadas, rosadas; estaminadas (3,2-)3,6-4,0(-5,0) cm compr., pistiladas (1,5-)2,0-3,0(-5,0) cm compr.; pedúnculo corto, densamente pubescente. Flores estaminadas: (1,3-)1,7-2,2(-3,0) mm compr., (1,2-)1,5-1,8(-2,1) mm larg., levemente globosas, às vezes comprimidas, alvo-rosadas, pediceladas; perianto com 5 tépalas, (1,1-)1,3-1,8(-2,0) mm compr., (0,4-)0,7-1,0(-1,3) mm larg., elípticas a agudas; pedicelo 0,4-0,6 mm compr.; estames 5, (2,2-)3,0-4,5(-5,3) mm compr., exsertos, dobrados no botão, alvos a amarelados; anteras 0,7-1,0 mm compr., rimosas, amareladas; pistilódio (0,4-)0,7-1,0(-1,3) mm compr., discóide a levemente elíptico, ápice globoso, enegrecido. Flores pistiladas: (1,4-)1,8-2,3(-3,1) mm compr., (0,5-)0,7-1,3(-2,0) mm larg., levemente globosas; perianto com 4-tépalas, (0,5-)0,8-1,0(-1,2) mm compr., (0,3-)0,5-0,8(-1,0) mm larg.; ovário (0,4-)0,7-1,0(-1,3) mm compr., 0,4-0,6 mm larg., levemente cilíndrico a elíptico; estilete curto, impregnado de concreções carbonáticas; estigma capitado, penicelado, ferrugíneo a arroxeado. Aquênio globoso a levemente achatado, (2,2-)2,8-3,2(-3,6) mm compr., (0,3-)0,6-0,8(-1,2) mm larg., perianto acrescente, assimétrico, estigma persistente, amarelo a alaranjado; semente (1,0-)1,2-1,7(-2,0) mm compr., ferrugínea a alaranjada na base, ápice enegrecido a avermelhado, endosperma presente.

Uso Alimentar

Composição das folhas (em base seca): Teor de proteína 23%, Ca 5%, Mg 0,54%, Mn 0,0072%, P 0,27%, Fe 0,0209%, Na 0,0108%, K 3,1%, Cu 0,0008%, Zn 0,0039%, S 0,27%, B 0,0053%
Destaque para os níveis de proteína, ferro e boro.[1]

Esta espécie, ocasionalmente é utilizada juntamente com cerca de outras 10 espécies (partes diversas) na composição de uma bebida fermentada e refrescante de consumo tradicional em Cuba. Esta bebida, chamada de Pru, é consumida até mesmo por crianças do ensino primário que levam-na para
consumir durante o recreio. O Pru, a partir da crise na ex-União Soviética (década de 1990) e do bloqueio comercial norte-americano a Cuba, passou a ganhar importância devido à falta dos refrigerantes tradicionais no mercado deste país. A parte do urtigão utilizada no preparo desta bebida é a porção subterrânea espesssada, denominda pelo autores de raiz ou túbera. O uso desta espécie é opcional, sendo utilizada pelas suas funções medicinais como depurativa ou diurética e citam que Urera baccifera é ocasionalmente cultivada nos quintais cubanos (conutos) como planta medicinal ou alimentícia.[1]

No Brasil e no RS há relatos populares sobre o potencial desta porção engrossada subterrânea do tronco de Urera baccifera como fonte de água. Suas folhas são tão saborosas e promissoras quanto às de Urera aurantiaca, mas são maiores. No entanto, frisa-se que há uma grande variabilidade e algumas plantas possuem folhas e ramos mais aculeados do que outras.[1]

A urticância das folhas de Urera aurantiaca (cansanção) desaparece após mantê-las secando à sombra por cerca de 12 horas ou rapidamente se expostas ao sol ou estufa (calor). as folhas de Urera aurantiaca são
usadas na elaboração de pães caseiros e refogados com carne de porco.[1]

As folhas, após passadas na água quente para retirar a urticância, também são utilizadas como hortaliça em algumas regiões.[4]

Os seus perigônios carnosos são esbranquiçados, comestíveis e adocicados.[1]
Os frutos, pequenos e brancos, são comestíveis e muito apreciados pela avifauna.[4]
Contraindicações/cuidados: as sementes são tóxicas.[3](algumas fontes questionam isso[4]).

Uso Medicinal

Propriedades medicinais: adstringente, antiinflamatória, anti-reumática, antianêmica, antidiabética, anti-hemorroidal, antissifilítica, anti-hidrópica, depurativa, diurética, galactagoga, hemostática,[3]revulsiva.

Indicações: afta, afecções de pele, amenorréia, anúria, ciática, diarreia, disúria, edema, enurese, epistaxe, erisipela, feridas, gota, hidrocefalia, infecções micóticas da pele, leucorréia, menopausa, queda de cabelos,

psoríase, picadas, tinha, úlceras, urticária.[3]

Parte utilizada: folhas jovens; rizoma e raízes (outono).[3]

Modo de usar: decocção das folhas ou raiz.[3]

Na medicina da cultura dos índios guaranis, a infusão das raízes e folhas é utilizada nos casos de infecções urinárias e para aumentar o leite das lactantes.[4]

Outros Usos

Os caules e ramos fornecem fibras têxteis de boa qualidade, podendo ser utilizadas em cordoaria.[4]
Na América Central é comumente cultivada como cerca-viva, devido a seus acúleos e tricomas urticantes. No México, durante o império Inca, era cultivada para obtenção de papel a partir do caule.[4]
Os caules fornecem excelente fibra, a qual é utilizada pelos índios Guarani da Argentina para a criação de instrumentos musicais de corda.[4] Os kaingangs usam para fazer o instrumento musical arquinho (winxy).[5]
Por ser pioneira, é considerada indicadora de áreas degradadas.[4]

Fontes:
[1] Plantas alimentícias não-convencionais da região metropolitana de Porto Alegre, RS, Kinupp, Valdely Ferreira
http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/12870

[2] Flora RS
http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_sp.php?img=4937

[3] Plantamed
http://www.plantamed.com.br/

[4] FloraSBS
https://sites.google.com/site/florasbs/urticaceae/urtiga-vermelha

[5] Os Cânticos de Guerra de Grupos Kaingang na Grande Porto Alegre
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/32862/000788273.pdf
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