17 de janeiro de 2010

As Plantas Medicinais

Por Moacyr Pezati Rigueiro

COMO RECONHECER AS PLANTAS MEDICINAIS

É preciso ter muito cuidado para não confundir uma planta com outra e acabar usando a planta errada. Trocar uma planta medicinal por outra parecida e venenosa pode levar à morte.

Confundir plantas não é muito difícil, porque algumas são realmente muito parecidas no tipo de folhagem, de flores e até no cheiro. Além disso num país tão grande como o Brasil, a mesma planta pode ter mais de um nome popular, conforme a região; por exemplo, a planta que no sul do país é chamada de erva-cidreira, tem outro nome no norte ou no nordeste.

Para evitar esses erros, os botânicos (cientistas que estudam os vegetais) classificam as plantas em grupos e dão a cada uma um único nome, que é o mesmo no mundo inteiro.

Essa classificação em grupos é feita de acordo com as semelhanças entre as várias plantas. Um certo número de plantas semelhantes forma uma família. Cada familia é formada por vários grupos menores, chamados Gêneros. Cada gênero, por sua vez, agrupa várias espécies. Algumas plantas, mesmo sendo da mesma espécie, mostram algumas diferenças entre si, sendo portanto de variedades diferentes. Toda essa classificação termina por dar a cada planta um nome, ou melhor, "nome e sobrenome"; é o chamado nome científico. Esse nome é sempre escrito em latim, com letras grifadas, sendo o primeiro nome o do Gênero (letra inicial maiúscula) e o segundo o da espécie (letra inicial minúscula). Às vezes ainda há um terceiro nome, o da Variedade.

Para que se entenda melhor, tomemos como exemplo a família das Umbeliferas. Essa família agrupa algumas plantas que dão flores e sementes em umbelas (daí o nome da família). Umbelas são aqueles "cachos" parecidos com um guarda-chuva, que podem ser vistos na erva-doce, no anis, na salsa e em muitas outras plantas. Por isso elas são da mesma família.

Como outro exemplo, tomemos a hortelã e o poejo. Elas são plantas da mesma família, a das labiadas. As duas pertencem também ao mesmo gênero, o gênero Mentha. A única diferença é que são de espécies diferentes, tendo portanto o segundo nome ("sobrenome") diferente. A hortelã chama-se Menthai crispa e o poejo Menthai pulegium. Não existe outra planta com o mesmo nome científico em nenhum lugar do mundo.

Não há dúvida de que isso tudo é muito complicado e que só mesmo um botânico pode saber o nome científico, ou pelo menos a que família uma planta pertence. Mas também não há dúvida de que isto pode nos ajudar a encontrar uma determinada planta em farmácias que vendem ervas. É só conferir no pacote ou no frasco o nome científico para ter certeza de que não estamos comprando a planta errada. Na prática, é claro que todos sabem reconhecer o alho, a cebola, a
hortelã, a salsa, a arruda e o alecrim, que são plantas cultivadas em qualquer horta, jardim ou mesmo encontradas para vender nas feiras e mercados. O problema é reconhecer as plantas mais raras ou aquelas que não são cultivadas na região onde se mora. Para isso são úteis os livros de plantas, ou as revistas de hortas e jardins, porque costumam trazer as fotografias ou os desenhos de cada planta, com o nome científico também. Quem se interessa pelo assunto em pouco tempo estará familiarizado com os mais diversos tipos de plantas, podendo facilmente reconhecer qualquer uma delas. Se a pessoa vai colher a planta no campo, no jardim ou mesmo comprá-la em qualquer lugar, se tiver a menor dúvida no reconhecimento, é melhor não usar aquela planta.


COMO COLHER E GUARDAR AS PLANTAS MEDICINAIS

A maioria das plantas pode ser guardada depois de secas por até um ano. Depois de um ano, começam a perder suas qualidades.

Todo o cuidado é pouco quando lidamos com a saúde. Se vamos usar as plantas como remédio, é importante que sejam limpas e livres de bichos, mofos ou venenos.

COLHEITA: Primeiro confira qual a parte da planta que deve ser usada (folhas, flores, flores, frutos, raízes, casca ou toda a planta), pois isso pode definir em que época do ano será melhor colher. Em geral, as folhas têm mais princípios ativos (são mais concentrados) na época da floração e as raízes na época do outono ou inverno, quando a planta tem menos folhas ou perde todas (período de dormência da planta). As flores devem ser colhidas assim que começarem a abrir.

A colheita deve ser feita de maneira a proteger a planta o máximo possível, principalmente se a pessoa vai colhê-la no campo, onde nasce espontaneamente. Não arranque a planta toda se for usar somente as flores ou as folhas. Deixe alguns brotos e ramos para que a planta possa continuar seu crescimento. Se precisar arrancar toda a planta, cuide para sempre deixar algumas delas no local, para que possam multiplicar-se e serem encontradas novamente no futuro. Muitas plantas correm risco de desaparecer para sempre de um lugar se não forem protegidas. Espalhe sementes ou plante galhos (caso a planta se multiplique por galhos ou estacas). De preferência, cultive suas plantas em jardins, vasos ou hortas, pois é mais fácil ter certeza de que não estarão poluídas e de que não serão destruídas totalmente. Procure não cortar a raiz principal, senão a planta morre; tente arrancar somente as raízes
laterais, menores.

Verifique sempre se o local não é irrigado com água poluída, sé não há poluição de fábricas ou de automóveis, como nas beiras de estradas, ou perigo de envenenamento com agrotóxicos por estar perto de roças e plantações.

Não colha plantas doentes ou com bichos. Despreze as partes que pareçam muito sujas ou comidas por insetos.

Não colha em dias chuvosos, úmidos; espere o orvalho secar, porque a umidade facilita o aparecimento de mofos.

Se a planta estiver muito empoeirada ou suja de terra, lave cuidadosamente com água limpa, escorra bem e enxugue com um pano seco.

SECAGEM: Para a secagem, primeiramente separe cada tipo de planta. Depois de secas, é mais dificil a separação. Coloque sobre uma tela ou peneira, de plástico ou pano, evitando as de metal, que podem enferrujar. Coloque para secar em local bem iluminado mas sem sol direto, bem ventilado. Se necessário, cubra com outra tela fina para impedir que o vento espalhe as plantas. Procure deixar bem espalhadas as partes a serem secas, porque facilita a evaporação da água.

Em geral a secagem demora poucos dias, dependendo do tipo de planta e do local. As folhas bem secas tornam-se quebradiças. Não se esqueça de proteger da poeira ou de qualquer coisa que possa estragar ou contaminar as plantas (cheiro de tintas, venenos, fumaças, calor intenso etc.).

Os frutos e raízes devem ser picados em pedacinhos bem finos para facilitar a secagem, porque contêm mais água que as folhas e flores.

ARMAZENAMENTO: Depois de muito bem secas, as plantas devem ser colocadas em vidros muito bem limpos e secos, de preferência escuros (porque a claridade destrói alguns princípios ativos) e muito bem fechados. Cole uma etiqueta ou papel no vidro, como um rótulo, com o nome da planta e a data em que foi colhida (pode também escrever a data em que ela perde o valor, ou seja, um ano depois de seca, e mesmo para que serve aquela planta: isso facilita o uso). Verifque sempre antes de usar a planta seca se não apareceram bichos ou fungos (bolores), que podem ser venenosos. Se estiver mofada, com cheiro diferente do normal, não use: jogue fora e prepare outra porção. Muito cuidado com as crianças; deixe sempre esses vidros (e todas as plantas e remédios) em lugar onde não consigam pegar sozinhas.

E importante marcar no rótulo se alguém da casa não pode tomar preparados daquela planta por causa de alergia ou de outra contra-indicação.


COMO USAR AS PLANTAS MEDICINAIS

O preparo de qualquer medicamento feito com plantas medicinais deve permitir preservar ao máximo o fito-complexo e principalmente o princípio ativo. Por isso, preste sempre atenção às receitas para não fazer chás das partes erradas da planta (usar raiz em vez de flores, por exemplo) ou ferver plantas que devem ser usadas cruas.

Principais tipos de preparados

INFUSÃO: Para preparar uma infusão, ferva a água e despeje sobre a planta a ser usada (a planta deve estar bem cortada em pedacinhos, para facilitar a extração dos princípios ativos). Deixe em infusão por alguns minutos, em geral 10 minutos, depois coe ou filtre. Conforme a planta, pode-se tomar quente ou fria, adoçada ou não. Use sempre vasilhas de vidro temperado, porcelana, louça ou cerâmica (barro), nunca use alumínio. Durante o tempo de infusão, pode-se
deixar o recipiente tampado.

DECOTO: O decoto é outra maneira de preparar plantas medicinais, mas que ao contrário da infusão, exige que a planta seja fervida na água durante algum tempo. Também não deve ser feito em recipientes de alumínio. Depois de ferver pelo tempo indicado, em geral deixa-se em infusão por mais alguns minutos, para que a extração dos princípios ativos se complete. Então coa-se ou filtra-se.

NIACERADO (TINTURA): Para preparar uma tintura, a planta deve ficar alguns dias em maceração (de molho) em um líquido, que pode ser vinho, vinagre, óleo, aguardente, conhaque, ou outra bebida alcoólica ou mesmo álcool puro. As tinturas feitas em álcool não devem ser usadas para beber, porque o álcool comum pode ser tóxico. Se for para tomar uma tintura, use um bom aguardente ou vinho, se não encontrar álcool puro de cereais para preparo de licores e
bebidas em farmácias. As tinturas são mais fortes que as infusões e decotos, por isso são usadas em doses menores. Evite dar às crianças, por ser
bebida alcoólica.

SUCO: O suco em geral é feito com a planta ou frutos frescos. Esmague muito bem a planta e então esprema fortemente com um pano limpo, para retirar o líquido. Pode ser usado o liquidificador ou a centrífuga, além dos espremedores de frutas.

CUIDADOS: As infusões e os decotos devem ser preparados de preferência na hora de tomar. Mas você pode deixar pronta a quantia que é usada num dia, guardando em local fresco e em vasilhas bem fechadas. Não guarde por mais de um dia. Para aplicar o suco de plantas frescas em ferimentos, é preciso que elas estejam muito bem limpas, para evitar infecções. Para matar micróbios,você pode deixar as plantas de molho por meia hora em água com vinagre (meio copo de vinagre por litro de água), enxaguando bem depois com água limpa. Todo ferimento profundo, principalmente com pregos, ferros e madeira,
pode causar o tétano. Procure imediatamente um posto de saúde para ser vacinado. O mesmo deve ser feito com mordidas de cachorro, que podem
causar a raiva. Não tente tratar picadas de aranhas, escorpiões e cobras com remédios caseiros, porque há risco de vida (o tratamento é feito com
o soro específico que combate o veneno de cada bicho). Todo ferimento deve ser muito bem lavado com água e sabão, mesmo que doa.

Para adoçar os preparados, use de preferência o mel de abelhas. Os diabéticos não devem usar nem açúcar nem mel; se não querem beber sem adoçar, podem usar adoçantes naturais como o steviosídeo ou os artificiais.

Para evitar que a água do decoto evapore totalmente durante a fervura, mantenha a vasilha tampada ou prepare uma quantidade maior de cada vez, já que neste manual as receitas em geral são para uma dose só.


COMO FAZER AS MEDIDAS

As medidas usadas neste manual de forma abreviada são o grama (g) e o mililitro (ml). Assim, 5g que dizer cinco gramas e l00m1 quer dizer cem mililitros. Cada quilo tem mil gramas e cada litro tem mil mililitros.

E difícil encontrar balanças que pesem pequenas quantidades como um ou dois gramas. Se você conseguir pesar l00g de uma planta muito bem picada ou em pó, conseguirá "pesar" de maneira aproximada as quantidades menores que precisar.

Por exemplo, pese 100g da planta que vai utilizar. Se dividir em duas partes iguais, terá duas porções de 50g cada. Se dividir em 10 porções
iguais, terá 10 montinhos com lOg cada. Se dividir a porção de 50g em 10 montinhos iguais, terá dez porções de 5g cada. E se dividir um montinho
de lOg em cinco partes, terá cinco porções de 2g cada. Dessa maneira, é possível obter pequenas porções mesmo sem ter uma balança especial.

O mesmo você pode fazer com as medidas de líquidos. Usando uma garrafa de refrigerante litro ou um saquinho de leite, por exemplo, você pode medir l.000m1. Basta encher o litro ou saquinho com água e depois dividir em partes iguais, usando copos ou outros recipientes que você tenha em casa. Assim, se você dividir em duas partes iguais, terá duas medidas de 500ml (meio litro). Se dividir em 10 partes iguais, terá 10 medidas de l00ml. Você pode então fazer uma marca no copo ou vasilha onde cabem os 100m1, com tinta ou esmalte de unha, guardando como medida; cada vez que precisar de apenas 100 ml,
é só encher de água a sua medida, sem necessidade de repetir sempre a divisão em partes iguais.

Outra maneira simples de fazer essas medidas, é usando colheres de café, de chá, de sopa ou ainda copos e xícaras. Mas é menos confiável porque, dependendo da fabricação, uma xícara ou colher de café, por exemplo, podem ser menores ou maiores (compare xícaras de fabricantes diferentes para ver como é difícil encontrar duas iguais). Apesar disso, é muito prático e as diferenças não são tão grandes a ponto de causar preocupações.
Assim: uma colher de café corresponde a 2 g.
uma colher de sopa corresponde a 5g.
uma xícara de café corresponde a 50m1.
uma xícara de chá corresponde a l00m1.

Dose de acordo com a idade

Neste manual, quando não estiver especificado, as receitas são destinadas a pessoas adultas, ou seja, de 21 a 50 anos. Para as outras idades, corrigir as doses de acordo com esta tabela:

maiores de 50 anos: dar 3/4 da dose.
de 14 a 20 anos: dar 2/3 da dose.
de 10 a 14 anos: dar 1/2 da dose.
de 5 a 10 anos: dar 1/4 da dose.
de 3 a 4 anos: dar 1/6 da dose.
de 2 a 3 anos: dar 1/8 da dose.
menores de 2 anos: dar 1/15 da dose.

Estes números indicam em quantas partes deve ser dividida a dose e quantas partes devem ser tomadas. O primeiro número representa sempre quantas partes são tomadas e o segundo número em quantas partes você deve dividir. Assim, 3/4 significa que você deve dividir a dose recomendada na receita em 4 partes e dar ou tomar somente 3 partes. 1/8 significa dividir a dose em 8 partes e tomar apenas uma.

Fonte:
http://www.scribd.com/doc/7020242/Manual-Ilustrado-de-Plantas-is

- Veja também:
Formas Básicas de Preparo das Plantas Medicinais
A Cebola

Um comentário:

  1. Excelente post, bem completo e preciso! Adoro herbologia, é a melhor forma de nos curarmos.

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