12 de novembro de 2009

Praticar Culturas para um abastecimento alimentar em continuidade

Por FAO

Uma horta que produz alimentos durante todo o ano representa a melhor segurança alimentar para as famílias e as comunidades do mundo rural.

É muito importante para uma família ter reservas de alimentos ou dinheiro (ou ambos) para poder fazer face às penúrias sazonais de géneros alimentares de base, às situações de urgência ou ainda às ocasiões especiais. Por exemplo, se um agricultor ficar doente e não puder trabalhar, ou se a sua colheita dos alimentos de base for má, os produtos da horta podem contribuir para a satisfação das necessidades alimentares essenciais da família.

Muitas aldeias ficam situadas longe das cidades e dos mercados. Os víveres provenientes do exterior são muitas vezes caros e difíceis de transportar, sobretudo quando as chuvas fortes inundam ou estragam as estradas. O facto de produzir alimentos no local permite poupar dinheiro e esforços, e garantir um aprovisionamento alimentar regular, mesmo se as estradas estiverem cortadas.

PLANIFICAR A PRODUÇÃO E A DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS PARA TODO O ANO

Planificar uma horta, para que ela possa garantir durante todo o ano uma provisão de alimentos em continuidade, é um processo que requer competências de gestão e conhecimentos sobre os seguintes assuntos:

- tipos de culturas que crescem bem na região;

- datas certas de sementeira ou de plantação das diferentes culturas para obter os melhores rendimentos;

- duração do período de crescimento dos diferentes tipos de culturas hortícolas;

- tempo durante o qual uma cultura pode fornecer alimento à família antes de precisar de ser substituída;

- culturas resistentes à seca (se a região tem falta de água);

- culturas que possam tolerar terras húmidas (por exemplo, pântanos ou terras alagadas).

Estes conhecimentos permitem ao horticultor escolher os tipos de culturas a praticar, as datas da sementeira ou da plantação, a localização e as associações de culturas. O horticultor deve conhecer bem as vantagens das sebes vivas, da cultura múltipla, da cultura em diferentes níveis, das árvores de fruto e das parcelas de cultura intensiva de legumes para delas tirar proveito. Estes assuntos são tratados nas Rubricas Tecnológicas de Horticultura de 11 a 15.

Com estes conhecimentos presentes, um horticultor pode planificar diferentes tipos de culturas que permitam obter durante todo o ano quantidades adequadas de alimentos fres-cos ou de conserva (por exemplo legumes, leguminosas, frutos, raízes e tubérculos).

Árvores de fruto

Certas árvores de fruto podem produzir durante todo o ano, e outras apenas durante determinadas estações. É importante escolher árvores que produzam frutos que amadurecem em diferentes épocas do ano e incluir igualmente árvores de fruto que produzam ao longo de todo o ano, por exemplo, a bananeira.

Algumas árvores (limoeiro, mangueira, abacateiro, por exemplo) levam muito tempo para dar frutos, mas depois produzem durante muito tempo sem necessidade de serem substituídas. O melhor método é seleccionar árvores que dêem fruto rapidamente (por exemplo, papaieira, bananeira, goiabeira) e plantá-las com outras que levam mais tempo a dar fruto (ver o Quadro 1). O horticultor pode utilizar técnicas como a enxertia para reduzir o tempo entre a plantação e a frutificação. Para mais detalhes sobre enxertia, ver a Rubrica Tecnológica de Horticultura 16, "Técnicas de multiplicação das plantas".

QUADRO 1
Idade das árvores quando começam a dar fruto

Árvore
Começo da frutificação
(anos depois da plantação)

Abacateiro
7-10

Bananeira
1

Citrinos
4-6

Goiabeira
2-3

Mangueira
5-7

Papaieira
1


Legumes de folhas verdes

A maior parte dos legumes de folhas verdes consumidos em África podem ser colhidos mais do que uma vez antes de voltarem a ser semeados ou plantados de novo. Uma grande variedade de legumes de folha está pronta para a colheita três ou quatro semanas depois da sementeira e continua a produzir por algum tempo (ver o Quadro 2). Certos legumes de folhas verdes crescem rapidamente, mas não podem ser colhidos mais do que quatro vezes no máximo antes da nova sementeira (por exemplo, o amaranto e algumas variedades de colza), enquanto que outras variedades dão folhas comestíveis durante todo o ano (por exemplo, mululu e a mandioca). É aconselhável misturar a cultura de legumes de folha de maturação rápida com a de legumes de maturação lenta. Estes últimos fornecem legumes à família durante longos períodos de tempo, o que evita replantá-los muitas vezes.

É também importante considerar que há períodos em que certos legumes de folha não são utilizáveis. Por exemplo, as folhas de mandioca são muito amargas durante a estação seca. Assim, o horticultor deve assegurar-se de que outros legumes possam ser consumidos em alternativa.

O quadro 2 dá alguns exemplos do tempo de crescimento de diferentes legumes, assim como do tempo durante o qual uma família pode beneficiar de uma cultura, antes de replantar. Quando as plantas vivem muito tempo, como o mululu ou a mandioca, as suas folhas podem ser colhidas muitas vezes durante o ano, enquanto que o amaranto só é colhido duas ou três vezes antes de ser semeado de novo.

QUADRO 2
Tempo que decorre entre a sementeira ou a plantação e a primeira colheita, e a duração do período de colheita

Cultura
Tempo necessário entre a sementeira ou a plantação e a primeira colheita
Duração do período de colheita antes de ser necessária a replantação

Amaranto
1 mês
2-3 colheitas

Batate-doce, folhas de
1 mês
3-4 meses*

Beringela africana
3 meses
2-3 meses

Tomate
3 meses
2 meses

Mandioca, folhas de
3-4 meses
1,5-2 anos*

Malagueta
4 meses
1-2 meses

Mululu
7-9 meses
3-5 anos


* Pode-se continuar a colher as folhas (excepto durante a estação seca) até à colheita dos tubérculos.

Leguminosas

Convém seleccionar as leguminosas de acordo com a estação e com as características adequadas à região. As leguminosas como o feijão-nhemba, o amendoim e o feijão-bambara, são normalmente associadas com outras culturas, como o milho. As leguminosas podem, assim, crescer na horta se houver água suficiente. Por exemplo, algumas culturas de feijão-nhemba de maturação precoce podem ser plantadas no início da estação das chuvas. Uma segunda cultura pode ser plantada na segunda metade da estação das chuvas. Se só se cultivar uma variedade leguminosa por ano, é necessário armazená-la para evitar perdas depois da colheita, especialmente por ataques de gorgulho.

Culturas que dão mais de um tipo de alimento

Os horticultores devem seleccionar tipos de culturas que dão mais do que uma categoria de alimentos. Em função dos hábitos alimentares locais, culturas como a mandioca, a batata-doce, a matabala, o feijão, o feijão-nhemba e a abóbora, fornecem à família tanto o alimento de base como legumes secos e legumes de folha.

Assegurar-se de que as plantas jovens e o material de plantação estão prontos

A cultura de plantas alimentares para assegurar um aprovisionamento em continuidade é indissociável da utilização permanente e eficaz da terra e de outros recursos limitados (água, mão-de-obra familiar, material de plantação), o que exige uma planificação minuciosa. O horticultor deve preparar as plântulas, ou o material de plantação, para o transplante, ou para a plantação, na altura da colheita de outras culturas, e ter em consideração a rotação das culturas.

CONSERVAÇÃO E ARMAZENAGEM DE ALIMENTOS SAZONAIS

O excedente de um produto sazonal pode ser conservado e armazenado para ser utilizado mais tarde. Algumas raízes carnudas são reservas vivas de alimentos que podem ser deixadas no solo até serem necessárias. Muitas destas raízes carnudas também fornecem folhas nutritivas (por exemplo mandioca e batata-doce). A Rubrica Tecnológica de Horticultura 18 dá detalhes sobre a transformação, a conservação e a armazenagem de culturas hortícolas. Ver igualmente o Anexo 3.

UTILIZAÇÃO DOS RENDIMENTOS DA HORTA PARA COMPRAR OUTROS ALIMENTOS

Nem sempre é possível produzir todos os tipos de alimentos que satisfaçam as necessidades diárias de uma família. É pois necessário vender o excesso de alimentos de base, legumes e frutos (quer dizer, os que não são necessários para o consumo actual ou futuro da família) e utilizar o dinheiro para comprar géneros alimentares que a família não pode produzir (por exemplo, óleo, açúcar, alimentos de base, legumes, e frutos suplementares) ou para cobrir outras despesas não alimentares da família (por exemplo, combustível, sabão, medicamentos, custos escolares).

Fontes:
http://74.125.47.132/search?q=cache:4fo3VSDw5XQJ:www.fao.org/docrep/007/x3996p/x3996p0t.htm+Uma+horta+que+produz+alimentos+durante+todo+o+ano+representa+a+melhor&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
ou
http://books.google.com.br/books?id=USvx3ccSstQC&lpg=PA205&ots=0bGheri0ub&dq=%22Uma%20horta%20que%20produz%20alimentos%20durante%20todo%20o%20ano%20representa%20a%20melhor%22&pg=PA205#v=onepage&q=%22Uma%20horta%20que%20produz%20alimentos%20durante%20todo%20o%20ano%20representa%20a%20melhor%22&f=false


- Veja também:
Receitas de Geléias
Como cultivar um pomar

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