11 de novembro de 2009

Informática Sustentável

Por Adrian Rupp

O atual paradigma da informática, pouco tem relação com a sustentabilidade comunitária. Ele é marcado por:

- Compra constantes de equipamentos com maior capacidade.
- Descarte constante de equipamentos com menor capacidade.
- Desconhecimento por parte dos usuários de como usar de modo mais livre estas tecnologias.

Devo dizer que nenhuma comunidade é obrigada a utilizar a informática. Milhares de comunidades tiveram muito sucesso passando longe destas tecnologias. Existe uma forte campanha nos convencendo de que precisamos disso e que só existem vantagens na informatização. Mas existe uma lista de desvantagens que só são percebidas se olharmos de forma crítica. Portanto o que resta fazer é avaliar os prós e contras em utilizar a informática, para tomarmos consciência das consequências da escolha de usar ou não estas tecnologias. Acho que não é tão difícil fazer está avaliação em comparação a projetar a melhor forma de tornar o uso sustentável. Portanto vou ficar com a segunda opção neste texto.


Como manter a informática numa comunidade auto-sustentável

O funcionamento básico de um computador é o seguinte: Entra energia e dados, ocorre o processamento, saem dados. Essa máquina é muito exigente com relação a qualidade da energia o que faz necessário o uso de estabilizadores. Essa energia pode vir de qualquer fonte: eólica, solar, biomassa, lenha, etc. Os dados entram pelo teclado, mouse, scanner, tela sensível ao toque. O computador foi projetado de tal modo que o teclado é indispensável, enquanto mouse, scanner e outros periféricos de entrada são opcionais. Para a saída dos dados existe o monitor, os autofalantes, impressoras, etc. De modo similar a entrada de dados, a saída exige um monitor e trata os outros periféricos de saída como opcionais.

Portanto já sabemos que vamos necessitar obrigatoriamente de um teclado e monitor. Para escolher estes equipamentos necessitamos avaliar:

- Qual modelo tem mais durabilidade
- Qual modelo é compatível com a placa mãe
- Qual modelo tem uma manutenção mais viável
Em alguns casos ainda se faz necessário avaliar o consumo de energia.

O processamento dos dados exige a presença dos elementos: placa-mãe, memória RAM, processador e drive de mídia. A placa mãe é que vai definir como serão os outros componentes já que todos deverão ser compatíveis com ela. No geral placas mães mais modernas consomem mais energia.

Existem diferentes dispositivos para armazenar os dados: disco-rígido, disquetes, cd-roms, dvd-roms, pen-drives, etc. Cada um com seu conjunto próprio de vantagens de desvantagens. Penso que o melhor é projetar um conjunto utilizando no mínimo dois tipo de mídias, por exemplo: disco-rígido e cd-roms ou disco-rígido e disquetes. O disco rígido é um ótimo dispositivo para armazenar dados, mas ele é dispensável. Penso que o melhor seja projetar o uso da informática de tal forma que seja viável viver sem ele. Isso é feito usando sistemas operacionais e programas que são instalados em disquetes ou cd-roms. Assim, perdendo o disco-rígido e o disco rígido reserva, todo o conjuto (teclado, monitor, estabilizador, placa-mãe, memória RAM, processador e outros periféricos), ainda são úteis.

Assim o hardware (parte fisica do computador) seria o seguinte:
Estabilizador (x2)
Fonte (x2)
Placa mãe (x2)
Memória RAM (x2)
Processador (x2)
Drives de mídias (x2) que poderiam ser: disco-rígido e cd-roms ou disco-rígido e disquetes ou outra combinação
Drive de mídia principal (x2)
Drive de mídia secundário (x2)
Teclado (x2)
Monitor (x2)

Pode parecer muita coisa mas em apenas descrevi dois computadores com peças totalmente intercambiáveis. Um deles será o titular e o outro o reserva. Cada vez que uma destas partes tem uma falha irreparável ela é substituída usando a peça que estava no computador reserva. Tal ocorrência deve ter sua causa encontrada para que o mesmo não ocorra com a peça sobressalente. Várias medidas devem ser tomadas para garatir uma longevidade, para começar siga o manual de instruções de cada componente. Outra questão, quase óbvia, é que a comunidade precisa possuir uma oficina para manutenção de computadores. Talvez uma falha irreparável não seja realmente irreparável se houver alguém que olhe de novo para problema com mais carinho.


Uso racional de mídias de armazenamento

Toda a mídia de armazenamento possuí um limite de espaço. Tal limite pode ser vencido de duas formas: comprando mais mídia ou fazendo um uso racional. A primeira opção não é válida para comunidades auto-sustentáveis. Assim resta fazer um planejamento para que a comunidade não entre numa forte dependência externa. Existem várias maneiras de evitar essa dependência:

- Limitar o tamanho dos arquivos de acordo com a mídia
O que sugiro é que se considere a capacidade total da mídia para definir o tamanho dos arquivos que serão quardados. Deste modo a mídia será usada de acordo com sua vocação e a perda de arquivos será menos frequente. O calculo que sugiro é o seguinte:

Espaço total da mídia dividido por 50.Por Exemplo:
Pendrive de 1GB: Espaço total = 977MB / 50 = 19,54MB ou aproximadamente 20MB

Assim a vocação deste pendrive é quardar arquivos de até 20MB. Esse alvo pode ser atingido escolhendo programas e jogos menores, compactando programas e arquivos e convertendo vídeos, músicas, fotos, textos, etc., para que ocupem menos espaço.

Unindo essa estratégia e a função multi-seção da gravação de CDs e DVDs estas mídias podem ser utilizadas várias vezes para novas gravações.
O resultado é que o uso foi racionalizado e a mídia adquiriu mais funções. O risco de perda de arquivos por defeitos na mídia também se torna menor.

- Escolha dos arquivos importantes
Um uso racionalizado envolve em certa medida a opção entre um arquivo ou outro. Mesmo limitando o espaço máximo de cada arquivo, ainda assim podemos chegar numa superlotação. A estratégia passa a ser excluir arquivos que não são essenciais. Algum destes podem permanecer quardados em mídias de backup, mantendo as mídias de uso constante com espaço livre para a utilização. O ideal é previnir a superlotação fazendo faxinas antes de se chegar a situação limite, que fica mais difícil de ser enfrentada se for num momento inoportuno.


Opções de Softwares

Todo computadore precisa de um sistema operacional. Apesar de ser muito utilizado, o Windows tem falhas de sustentabilidade. Em primeiro lugar, o Windows XP exige um licença para cada computador onde é instalado e uma validação via Internet. Ele ainda exige um drive de CD-ROM. Talvez a pior limitação seja que ele não funciona a partir de mídias removíveis como pendrives, disquetes, CD-ROMs, DVD-ROMs, etc. Por outro lado existem sistemas operacionais que podem ser usados mesmo que o computador não tenha um disco rígido. Apartir de um LiveCD, por exemplo, várias distribuições de Linux podem ser acessadas. O sistema DOS é extremamente enxuto e permite o uso do computador a partir de disquetes. Assim, os dois tipos de dispositivos de armazanamento podem dar o boot na máquina e na falta de um, ainda teremos o outro.

Segue-se a mesma estratégia com relação aos programas. Cada função do computador, como por exemplo edição de imagens, tendo dois programas que são capazes de realizá-la. Deste modo, as limitações de um programa são compensadas pelo segundo.
Ainda pensando em não enforcar o uso do computador é necessário mais de uma pessoa capaz de usá-lo, mais de uma capaz de consertá-lo e mais de uma fonte de energia (eólica, solar, biogás, etc.).

Opções Avançadas

Observando as recomendações acima acredito que seja possível um uso independente e sustentável da informática por um longo período. Mas uma comunidade por optar por desenvolver-se dando ênfase nesta área. Isso pode se dar com o desenvolvimento de softwares, produção de placas de eletrônica, usinagem de peças, etc. Com isso a sustentabilidade se amplia para um nível além do essencial, o que gera custos maiores mas por outro lado permite ofertar essa produção em mercados de trocas com outras comunidades.
Este texto não esgota o tema. Mas já abre caminhos para pensar e planejar o uso de tecnologias sofisticadas em comunidades auto-suficientes.

- Para entender melhor:

Antigo texto que escrevi sobre isso:
http://br.groups.yahoo.com/group/sustentacomuni/message/51

Algumas páginas da Wikipédia que ajudam a entender o assunto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Livecd
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dispositivo_de_armazenamento
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mem%C3%B3ria_ram
http://pt.wikipedia.org/wiki/Software_livre
http://pt.wikipedia.org/wiki/Disco_r%C3%ADgido

Outros artigos neste blog:

CDs - Uso Auto-sustentável
http://sustentacomuni.blogspot.com/2011/02/cds-uso-auto-sustentavel.html

Disquetes úteis
http://sustentacomuni.blogspot.com/2011/01/disquetes-uteis.html

SliTaz3 remaster Adrian
http://sustentacomuni.blogspot.com/2010/06/slitaz3-remaster-adrian.html

Disquetes: Uso sustentável
http://sustentacomuni.blogspot.com/2010/05/disquetes-uso-sustentavel.html



Comentário de Victor Kerber, Analista de banco de dados:

Caros amigos e visitantes,

Creio este ser um assunto complexo (devido a sua dificuldade implantação e pelo número de possibilidades e opções oferecidas), com tudo, visualizando externamente o assunto, vejo a informática como uma dependência mundial, vendo a mesma, como ferramenta.

Ferramenta esta que pode ser para melhorar o ensino e a didática, administração, pesquisas e por ai vai... Sei que o foco de comunidades auto-sustentáveis é justamente não possuir qualquer tipo de dependência externa se possível, ou pelo menos tentar minimizar ao máximo, estas dependências.

No caso da informática, vejo como uma necessidade, que pode vir a se tornar uma dependência ou não, que pode vir a ferir os princípios de uma comunidade ou não... Digo isso pelo fato de estes acontecimentos estarem diretamente ligados a gestão dos recursos e a forma como os moderadores ou administradores da comunidade em questão cuidará e administrará tais recursos, a forma que conduzirão a informatização.
Resumindo, o uso da informática deve chamar telemática, pois já vejo como o setor que gerencia os recursos de informática e telecomunicações e os seus meios, deverão estar condicionadas a capacidade da comunidade como um todo de administrar e utilizar de forma racional os recursos desta área... Ou seja, depende de como será aplicado este recurso na comunidade.

Com certeza o primeiro grande passo para verificar a possibilidade, e decidir pelo uso da telemática ou não na comunidade, devera ser o estudo de caso e a definição exata do seu uso, assim como a disponibilização do recurso, realizando alguns dos seguintes questionamentos:

Por que, para que, quando, quanto, como, por quanto tempo, que tecnologia usar... são apenas algumas das questões que devem estar bem claras antes de iniciar qualquer implantação.

Apos a respostas destas e de outras questões, deve se analisar a capacidade, a necessidade e a possibilidade de montar ou eleger na comunidade uma equipe de telemática, que devera exercer toda implantação, manutenção e bem como estudo de investimentos futuro em novas tecnologias e claro proverem e fornecer o correto treinamento e suporte dos usuários e formar novos técnicos para atenderem as demandas conforme o crescimento e desenvolvimento da comunidade.

O passo seguinte devera ser a decisão por (quais equipamentos utilizar, quais programas utilizar, quais periféricos, mídias e acessórios utilizar, qual a forma de implantação e manutenção de tais tecnologias e principalmente os custos e a porcentagem de dependência externa que será causada por tais escolhas), para que se defina o que adquirir e comprar ou ainda em alguns casos produzir.

Depois de escolhidas e implantadas as tecnologias, devera ser feita toda documentação técnica (manuais e tutoriais sobre instalação, funcionamento e manutenção) de todos os equipamentos e softwares aplicados e utilizados, de forma que com o andar do tempo possa se realizar a sucessão da gerencia de telemática e sua equipe técnica sem dores de cabeça, prejuízos e perdas... Partindo do principio de comunidade auto-sustentável, será imprescindível que todo o material desenvolvido dentro e para a comunidade deva estar documentado conforme mencionado acima e disponível a todos de forma totalmente gratuita e desguarnecida de direitos autorais.

Finalizando a questão, vou lembrar que, é sim, plenamente viável ser auto-sustentável e ao mesmo tempo viver e utilizar a tecnologia, utilizando a como ferramenta para o desenvolvimento e administração da comunidade.

Vale lembra ainda, fazendo referencia a opção de equipamentos e softwares disponíveis, que também podemos rodar e armazenar dados e sistemas operacionais em cartões de memória flash (memory sticks) em discos virtuais na internet e em emails (citando o exemplo do Gmail, da Google que atualmente fornece o maior espaço em disco e ainda fornece ferramentas como agenda, editor de planilhas, editor de texto, editor de apresentações (vulgo Power Point da Microsoft) e ainda a possibilidade de salvar e armazenar estes documentos em seus servidores que possuem redundância na Europa, America do sul e America do norte, o que favorece a preservação dos dados mesmo que ocorram catástrofes em seus datacenters tudo totalmente gratuito ao usuário.

Temos também dentro da área de sistemas operacionais, alternativas gratuitas aos sistemas pagos (mediante compra de licença), como por exemplo, ao invés de utilizar o Windows da Microsoft temos uma excelente opção de Linux, com distribuição Ubuntu onde os desenvolvedores tomaram todo o cuidado para deixar o sistema mais gráfico e simples possível para que qualquer usuário com ou sem experiência possa fazer uso com tranqüilidade e a mesma produtividade que teria no sistema Windows.

Como base de dados, temos como exemplo gratuito o POSTGRESQL, um poderoso banco de dados relacional que vem nativamente em distribuições Linux, sendo totalmente gratuito e com suporte pela comunidade internacional de software livre.

E por ai vamos... Para conjunto de aplicações de escritório, editores de texto, planilhas e etc. Temos duas opções, o open Office e o Broffice sendo esta segunda, uma melhoria da primeira realizada por uma equipe brasileira e sendo totalmente em português.

Então deixo claro que sou a favor da telemática em prol da comunidade desde que bem gerenciada e que acredito poder utilizar tais recursos sem ferir ou ferindo minimamente os conceitos e valores das eco-vilas e comunidades auto-sustentáveis.

Lembro a todos que excelentes resultados dependem diretamente de excelentes escolhas!

- Veja também:
Videos Energia Eolica
Os males da Escrita

Um comentário:

  1. Achei muito interessante o comentário acima, do Victor Kerber, mas queria acrescentar mais um elemento.
    Quando falamos em comunidades sustentáveis, normalmente estamos falando de comunidades isoladas e não de redes de comunidades sustentáveis. Se nossa perspectiva for (como é a minha) de construir e integrar uma rede de comunidades sustentáveis ao rede de todo planeta, ou seja, de uma rede sustentável, precisamos pensar em redes e repositórios de dados independentes das oferecidas hoje pelo Sistema, basicamente apoiadas na Internet. Precisamos estabelecer redes de dados cuja camada física seja baseada em redes de rádio que interligem bases de dados redundantes localizadas em comunidades sustentáveis. Com isso teremos um paradigma completamente sustentável.

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