8 de dezembro de 2009

Os males da Escrita

Por Adrian Rupp

Sabemos muito bem os benefícios que a escrita trás aos indivíduos e sociedades, mas diante de uma enfática campanha de apologia à alfabetização nem por um segundo nos questionamos o que poderíamos estar perdendo vivendo num mundo que valoriza a escrita. Como vivemos sob um império nenhuma comunidade tem o poder para optar por excluir a escrita completamente, porém, é importante que tenhamos consciência do que ela representa para uma comunidade e assim decidir como será usada em favor desta coletividade. Ainda resta o poder de escolher se nossa comunidade vai ou não vai valorizar a escrita.

Para começar vou tentar enumerar alguns prejuizos da escrita. Seria mais fácil conhecê-los através de uma comunidade que conscientemente optou por se afastar da escrita, mas vou fazer o exercício de imaginar o que se perde por utilizar a escrita.

1. Racionalização
A escrita é uma ferramenta fortemente ligada à realidade racional, diferentemente da linguagem oral e gestual, que são mais fortemente ligadas à realidade emocional. Percebemos isso explicitamente quando temos dificuldade de expressar sentimentos com textos que seriam facilmente expressados com gestos. Numa história contada oralmente ou gestualmente está presente as expressões faciais do narrador e da platéia, algo que é perdido numa história contada num livro.
Assim optar pela escrita é valorizar a realidade racional, ordenada e definida e consequentemente, desvalorizar a realidade emocional, desordenda, indefinida.

2. Imprecisão
Existe na definição da palavra escrita uma imprecisão por mais contraditório que pareça. O problema é expresso pelo ditado: "melhor estar aproximadamente certo do que precisamente errado".

Exemplo 1: Números
Imagine que se fez o registro de que foram colhidas 4 goiabas. Essa frase pode ser falsa de várias maneiras. Mesmo que na hora de colher foi exatamente isso que aconteceu, na prática um das goiabas tinha lagartas e não pode ser aproveitada. Ou de outra forma, o tamanho de uma era tão diminuto que não foi usada como uma unidade de fruta. Poucas pessoas se dão conta mas quando fazemos contagens estamos fazendo uma gigantesca abstração. Assim algo que poderia ser conhecimento na verdade é uma informação falsa.

Exemplo 2: adjetivos
Adjetivos são uma grande fonte de erros. Quando se diz "homem alto" cada pessoa projeta uma imagem mental diferente. Na linguagem oral o narrador conhece e dialoga com a platéia e pode perceber se foi mal compreendido até mesmo pelas expressões faciais.
O narrador da palavra escrita normalmente não conhece a platéia e assim pode cometer erros de ordem local. Um "homem alto" é um conceito que muda de região em região.

3. Perdas de habilidades
Uma comunidade que opta em desenvolver a escrita também está optando em não desenvolver outras técnicas de transmissão de conhecimentos. Não há como desenvolver todo tipo de técnica de transmissão de conhecimento de forma igualitária e assim sempre haverá uma que será a preferida e as subdesenvolvidas. Aldeias que utilizam a tradição oral desenvolvem muito mais a memorização e a oratória por exemplo. Desenvolvem-se técnicas que permitem que conhecimentos atravessem gerações com qualidade, por exemplo através de orações, músicas, ladainhas, etc. Envolver o interlocutor se torna um ato físico e não apenas intelectual, recheado por gestos, posturas, entonações e até mesmo toques. Tais habilidades são muito poderosas, indo até o extremo da hipnose, portanto são uma ameaça para os impérios se forem dominadas pela maioria. Tais técnicas são muito mais naturais e portanto mais fáceis do que se alfabetizar. A rotina escolar acaba naturalizando a escrita de tal modo que ironicamente muitas pessoas tem vergonha de falar em público e preferem se comunicar via escrita pela Internet.

3. Dependência
Os atuais suportes e instrumentos da escrita não são dominados pela maioria da população. Para escrever esse texto eu tive que usar um computador que eu não sou capaz de fazer. Canetas, lápis, lapiseiras, papeis, e outros materiais exigem compras, diferente de utiliar os meios de comunicação que ganhamos quando nascemos como olhos, boca, mãos, ouvidos, etc. Quanto mais formos aptos em nos comunicar usando meios próprios mais seremos livres. Os meios comprados ou emprestados serão usados para nós subjulgar. Existe uma diferença entre possuir uma tecnologia e dominá-la. Se apenas utilizamos, sem saber como mantê-la por meios próprios, ela está conosco mas não é nossa. Quem realmente a possui é aquele que decide se ela é ofertada ou não.

Enfim, isso é o que fui capaz de alcançar nesse exercício imaginativo. Como já disse, não conheço ou vivo numa comunidade que optou por ignorar a escrita para chegar perto da real dimensão das vantagens que esta escolha pode representar. Fui criado num mundo onde a escrita não só é um valor como uma imposição. Hoje por lei do império brasileiro nenhuma criança pode fugir da alfabetização. Ela é obrigada a utilizar a escrita por 9 anos de sua vida durante o ensino fundamental. Nenhum crime tem uma punição tão rigorosa quanto este. A apologia é tanta que a perda da liberdade, perda da autonomia, não são consideradas. E assim sutilmente podemos entrar num governo totalitário, onde pelo nosso bem não temos liberdade.

- Veja também:
Poder, Decisões e Governo
Informática Sustentável

2 comentários:

  1. Desculpe as críticas, minha intensão não é ofendê-lo, mas você comete diversos erros nesse seu "exercício imaginativo".

    O primeiro erro está na sua própria alfabetização. Você tem sérios problemas em separar as orações (uso da vírgula), causando problemas no encadeamento de idéias. Por esse motivo, você diz que "temos dificuldade em expressar sentimentos com textos que seriam facilmente expressados com gestos". O problema, nesse caso, não é a língua escrita, mas o uso deficiente que se faz dela.

    Sobre a "racionalidade" da língua escrita, te aconselho a leitura de Carlos Drummond de Andrade ou Mário Quintana, para perceberes o quão preciso um sentimento pode ser descrito, ou quão subjetiva pode ser uma frase.

    Para não me estender muito, vou ao último ponto: a "perda de habilidades" que se tem ao favorecer a escrita perante a oralidade, ou qualquer outra forma de comunicação (código morse, libras, imagens justapostas...). A escrita foi desenvolvida justamente para dar suporte à esses outros meios. Como seria possível que Camões cantasse (sim, o livro é dividido em Cantos) toda a epopéia de Ulisses sem ter o aporte físico da escrita? Decoraria todo o texto? E a transmissão desse texto para a posteridade, seria feita completamente por via oral? Nossa experiência cristã (Bíblia) revela que a transmissão oral é altamente corruptível, perdendo facilmente seu sentido. E a escrita musical? As partituras não se distanciam tanto da língua própriamente dita. Sem a escrita musical, talvez o homem nem soubesse o que é harmonia e melodia.

    Um abraço!

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  2. Gustavo,
    Percebi no teu comentário uma legitima defesa da escrita, legal ver q tu acredita q ela traga benefícios.
    Meu texto foi fraco realmente, mas gostaria que tu tivesse sido capaz de perceber o prejuizo que a escrita representa, de um modo que eu não fui. Sei que isso exigiria muito mais de ti pois teria que ser capaz de usar tua capacidade crítica contra tua própria fé. Em vez de ir contra um "infiel" reafirmando tua fé.

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